domingo, 31 de julho de 2011


"Há que sangrar,
e se doer,que doa...
Há que arder,
deixo-me queimar,
não importa...

...Não pesam cicatrizes,
mas tira o sono a inércia,
a covardia,a indecisão...

Pesa a contradição,
o querer que se sufoca,
o Ser que se não é...

O mais puro,o mais forte
e precioso é aquele que
ardeu na forja do Amor"

Ana Lúcia Souto

sábado, 30 de julho de 2011

Meu canto

Estava no meu canto, levando minha vida;
minha vida me levando
para dentro do meu próprio canto.

Do canto da minha vida
outros cantos eu vi;
outros que, em seus cantos
levavam as suas vidas
vidas que os levavam
para dentro de seus próprios cantos

E comecei a ver
as cercas dos seus cantos,
invisíveis,
mas que tolhiam o mover.

E comecei a sentir
as amarras no meu canto
opressivas,
que me impediam de ir.

Do canto da minha vida
outros cantos ouvi,
outros que, em seus cantos
sonhavam em se mover,
sonhavam com ir e vir.

Quero me soltar do meu canto
Quero soltar a voz no canto,
o canto da minha vida.
Quero a vida que vai me levando
para onde eu quero ir.

Quero o encontro dos cantos
para seguirmos levando a vida,
indo e vindo por todo canto,
simples encontro e devir.

Benjamin Barreto

quinta-feira, 28 de julho de 2011

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Queda do sistema

Nos enganaram
Prometeram que se cumprissemos
Teríamos a felicidade

Nos falaram de plano de carreira,
De diplomas, de escaladas à altos níveis,
Para ter a nossa dignidade.

Muitos de nós acreditamos,
Cumprimos as normas, alcançamos as metas
Mas nos decepcionamos.

Pois a cada degrau de subida
Outro ser humano
Ficava para trás.

Chantagearam nossa subjetividade
Manipularam aspirações queridas
Impossibilitaram nossos sonhos

E a cada degrau de subida
O afeto, a verdadeira solidariedade e a compaixão
Foram substituídos pelo signo do egoísmo e da competição

Nos enganaram, até o dia,
Que fracassados e inadaptados
Desvendamos o sistema.

Surgiu um clamor, como um sopro distante
Leve, suave, porém transformador
Capaz de tripidar as fendas do pré estabelecido.

E desde aí nada mais foi como antes
O cântico insinuante do sistema
Não nos seduzia mais

Passamos dia a dia
A mostrar as frestas à outros,
E esperar o dia da queda.

Cristiane Prudenciano

terça-feira, 26 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011


"(..)
Deixa partirem os sentidos.
Deixa partirem os desejos.
Deixa partirem os conflitos.
Deixa partirem as idéias.

...Deixa partir a ficção da vida e da morte.

Permanece simplesmente no centro, observando.
E, então, esqueça de que está nele."

Hua Hu Ching por Lao Tzu

domingo, 24 de julho de 2011

Autopsicografia

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. "

Fernando Pessoa

Liberdade

sábado, 23 de julho de 2011

Cuando me puse a pensar

Cuando me puse a pensar
La razón me dio a elegir
Entre ser quien soy, o ir

El ser ajeno a emprestar,
Mas me dije: si el copiar
Fuera ley, no nacería

Hombre alguno, pues haría
Lo que antes de él se ha hecho:
Y dije, llamando al pecho,
¡Sé quien eres, alma mía!?

José Martí

sexta-feira, 22 de julho de 2011

No elevador do filho de Deus

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo

Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas

Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não
me vejo ressurgida no banheiro
feito punheteiro de chuveiro

Sem cor, sem fala
nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento

Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo

Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!

Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega

Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

Elisa Lucinda

A Dança e a Alma













A DANÇA?
Não é movimento,
súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural.

No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança – não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.

Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...

Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lapso

Uma linha do tempo liga nós dois.
Buscando uma menina que não existe mais,
Você me observa.

Encontrando aquilo que eu sempre buscava,
Te observo, assustada.
"Sempre tão perto estava".

Mas oque fazer além da reconciliação profunda
Com nossas vidas.
E a aceitação que em outra época
Não havia oque há hoje.

Não existiam elementos para enxergar,
Sendo assim não há oque lastimar.
E sim, aceitar oque a vida nos brinda,
Agradecendo a oportunidade de crescer, rever e avançar.

Na linha do tempo cada um
Segura uma ponta,
Um a ponta do passado,
Outro a ponta do futuro.

No meio de tudo,
Nos encontramos no presente,
No que será que tudo vai dar?
Oque mais há a aprender?

Os tempos se misturam,
Passado, futuro e presente.
E por um lapso nesses tempos
Nossas histórias se cruzam outra vez.

Oh Alma minha, donde vem essa
Nostalgia daquilo que não vivi?
Por que agora a releitura do que passou se apresenta?
Se o que transcende essa vida são as recordações e ações vividas,
Esperarei, mente reflexiva, segurando uma ponta da linha do tempo,
Que por um plano maior(?) me foi concedida.

Esperarei, sem pressa, pois as maiores compreensões vem da espera humilde.
E talvez em outro lapso, esse Universo conspirador.
Nos conceda um novo encontro nesse tempo/espaço,
Onde possamos compreender desde outra profundidade,
Tudo que nos foi ocorrido.

Cristiane Prudenciano

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Leveza

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

Cecília Meireles

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Ser Humano do Futuro

"O Ser Humano do futuro não vai querer ganhar e possuir coisas; vai querer sentir, criar, construir, aprender sem limites. Não vai querer possuir, ter, controlar; esse humano compreenderá que há milhões de formas de desenvolver a emoção e o pensamento, que há uma inimaginável diversidade de formas de sentir e pensar."


Silo

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mandala


A mandala como simbolismo do centro do mundo dá forma não apenas as cidades, aos templos e aos palácios reais, mas também a mais modesta habitação humana. A morada das populações primitivas é comumente edificada a partir de um poste central e coloca seus habitantes em contato com os três níveis da existência: inferior, médio e superior.

A habitação para ele não é apenas um abrigo, mas a criação do mundo que ele, imitando os gestos divinos, deve manter e renovar. Assim, a mandala representa para o homem o seu abrigo interior onde se permite um reencontro com Deus.

domingo, 17 de julho de 2011

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
 
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 16 de julho de 2011



"Sempre há flores para aqueles que querem vê-las."

Henri Matisse

Sagrado



"Todo ser humano debe contar con pleno derecho a creer o no creer en la inmortalidad y lo sagrado."

Silo

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles



Leveza

"Tenho pensamentos que, pudesse eu trazê-los à luz e dar-lhes vida, emprestariam nova leveza às estrelas, nova beleza ao mundo, e maior amor ao coração dos homens"


Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Canção do amor que chegou

Eu não sei, não sei dizer
Mas de repente essa alegria em mim
Alegria de viver

Que alegria de viver
E de ver tanta luz, tanto azul!
Quem jamais poderia supor

Que de um mundo que era tão triste e sem cor
Brotaria essa flor inocente
Chegaria esse amor de repente
E o que era somente um vazio sem fim
Se encheria de cores assim

Coração, põe-te a cantar
Canta o poema da primavera em flor
É o amor, o amor chegou
Chegou enfim
 
Vinicius de Moraes


"Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível."

"O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo."

Mahatma Gandhi




quarta-feira, 13 de julho de 2011

Perfeito

                                                                                           Imagem: Karin Isumi

Manifiesto

Yo no canto por cantar
ni por tener buena voz,
canto porque la guitarra
tiene sentido y razón.

Tiene corazón de tierra
y alas de palomita,
es como el agua bendita
santigua glorias y penas.

Aquí se encajó mi canto
como dijera Violeta
guitarra trabajadora
con olor a primavera.

Que no es guitarra de ricos
ni cosa que se parezca
mi canto es de los andamios
para alcanzar las estrellas,
que el canto tiene sentido
cuando palpita en las venas
del que morirá cantando
las verdades verdaderas,
no las lisonjas fugaces
ni las famas extranjeras
sino el canto de una lonja
hasta el fondo de la tierra.

Ahí donde llega todo
y donde todo comienza
canto que ha sido valiente
siempre será canción nueva.

Victor Jara

terça-feira, 12 de julho de 2011



"Tudo na vida, mas tudo mesmo,
depende de uma idéia inteligente
e de uma decisão firme."
Goëthe

"A idéia não pertence à alma;
é a alma que pertence à idéia."
Charles Sanders Peirce

Inspiração


“Onde até na força do verão havia tempestades de ventos e frios de
crudelíssimo inverno.” Fr. Luís de Sousa



São Paulo! Comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...

Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...

São Paulo! Comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!

Mário de Andrade

Frases de Clarice

"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

"Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito."

"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora,
pois tudo passa a acontecer dentro de nós."


Clarice Lispector

Cuando te vayas...

Cuando te vayas, anda tranquilo

Yo, mi amor, te estaré esperando

Cuando te vayas, anda tranquila

Yo, mi amor, te estaré buscando
 
Dario Ergas

domingo, 10 de julho de 2011

Poemeto

Somei o meu amor
Com a vida
depois múltipliquei com a saudade
Dividi com a esperança
Pois sabendo que um dia
Essse amor ia diminuir
Mas esse amor que busquei
Foi crescendo cada vez mais...
E sei que não foi a prazo
teve juros , eu juro.
 
Walter Poeta
"Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

e eu para sempre te leve..."

Cecília Meireles



Palavras de Silo

É a fé no nosso destino,
é a fé na justiça de nossa ação,
é a fé em nós mesmos,
é a fé no ser humano,
a força que anima nosso vôo.
Porque não é o fim da História,
nem o fim das idéias,
nem o fim do homem,
porque não é tampouco o triunfo definitivo da maldade e da manipulação,
é que podemos tentar sempre mudar as coisas e mudarmos a nós mesmos.
Este é o intento que vale a pena viverporque é a continuação das melhores aspirações da gente boa
que nos tem precedido.
É o intento que vale a pena viver porque é o antecedente das futuras gerações que
transformarão ao mundo.

Silo

sábado, 9 de julho de 2011

A alegria




"A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita."

"A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira."


Ave da Esperança


"A reconciliação é uma ave
que voa para levar esperança
aos corações obscurecidos.

Quando ouvimos seu canto
o amor e o afeto voltam a brotar
em uma fonte de água cristalina"

Alexandre Sammogini

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O mundo

Um homem da aldeia de Negu; no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.

— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais.
Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueirasde todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

Eduardo Galeano

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Homem e Mulher



O Homem e a Mulher
O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono.
Para a mulher, um altar.
O trono exalta.
  O altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz; o coração produz Amor.
A luz fecunda.
O Amor ressuscita.
O homem é forte pela razão.
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence.
As lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos.
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece.
O martírio sublima.
O homem tem a supremacia.
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força.
A preferência representa o direito.
O homem é um gênio; a mulher, um anjo.
O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.
A aspiração do homem é a suprema glória.
A aspiração da mulher é a virtude extrema.
A glória faz tudo grande.
A virtude faz tudo divino.
O homem é um código.
A mulher, um evangelho.
O código corrige.
O evangelho aperfeiçoa.
O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter no crânio uma larva.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano.
  A mulher um lago.
O oceano tem a pérola que adorna.
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa.
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.
O homem é um templo.
A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos.
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
  E a mulher onde começa o céu.
Victor Hugo

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Felicidade

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

terça-feira, 5 de julho de 2011

Reconciliação



Reconciliação para mim é o meio capaz de me conectar com o coração
Reconciliação para mim é a forma de me conectar com o espírito
Reconciliação para mim é superar aquele sofrimento que não me deixa dormir
para descansar e poder avançar.
Reconciliar para mim é não sofrer.
Reconciliar para mim é sentir aquela alegria que vem de dentro e me faz sorrir.
Reconciliar para mim é não ficar tensa e presa com as imagens que não me deixam ver.
Reconciliar para mim é ter energia livre para caminhar e acreditar no futuro.
Reconciliar para mim é ampliar o olhar e poder voar.
Reconciliar para mim é ter a certeza que ao morrer continuarei mais vivo que nunca.

Fran Santos

O Guia do Caminho Interno



"Pelo caminho interno podes andar escurecido ou luminoso. Atenta às duas vias que se abrem diante de ti.
Se deixas que o teu ser se lance em direcção a regiões obscuras, o teu corpo ganha a batalha e ele domina. Então, brotarão sensações e aparências de espíritos, de forças, de recordações. Por aí desce-se mais e mais. Ali estão o Ódio, a Vingança, a Estranheza, a Possessão, os Ciúmes, o Desejo de Permanecer. Se desces mais ainda, invadir-te-ão a Frustração, o Ressentimento e todos aqueles devaneios e desejos que têm provocado ruína e morte à humanidade.

Se impeles o teu ser em direcção luminosa, encontrarás resistência e fadiga a cada passo. Esta fadiga da ascensão tem culpados. A tua vida pesa, as tuas recordações pesam, as tuas acções anteriores impedem a ascensão. Esta escalada é difícil por acção do teu corpo que tende a dominar.

Nos passos da ascensão encontram-se regiões estranhas, de cores puras e de sons não conhecidos.
Não fujas da purificação que actua como o fogo e que horroriza com os seus fantasmas.
Repele o sobressalto e o desalento.
Repele o desejo de fugir para regiões baixas e obscuras.
Repele o apego às recordações.

Fica em liberdade interior, indiferente ao devaneio da paisagem, com resolução na ascensão.
A luz pura clareia nos cumes das altas cadeias montanhosas e as águas das mil-cores descem, por entre melodias irreconhecíveis, para mesetas e pradarias cristalinas.
Não temas a pressão da luz que te afasta do seu centro cada vez com mais força. Absorve-a como se fosse um líquido ou um vento, porque nela, certamente, está a vida.

Quando, na grande cadeia montanhosa, encontres a cidade escondida, deves conhecer a entrada. Mas, isto sabê-lo-ás no momento em que a tua vida seja transformada. As suas enormes muralhas estão escritas em figuras, estão escritas em cores, estão "sentidas". Nesta cidade guarda-se o feito e o que está por fazer... Mas, para o teu olho interno é opaco o transparente. Sim, os muros são-te impenetráveis!
Toma a Força da cidade escondida. Volta ao mundo da vida densa, com a tua fronte e as tuas mãos luminosas".

Silo

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A suspeita do Sentido

1. Às vezes adiantei-me a fatos que depois aconteceram.
2. Às vezes captei um pensamento longínquo.
3. Às vezes descrevi lugares que nunca visitei.
4. Às vezes relatei com exactidão o que aconteceu na minha ausência.
5. Às vezes uma alegria imensa surpreendeu-me.
6. Às vezes uma compreensão total invadiu-me.
7. Às vezes uma comunhão perfeita com tudo extasiou-me.
8. Às vezes rompi os meus devaneios e vi a realidade de um modo novo.
9. Às vezes reconheci como se visse novamente, algo que via pela primeira vez.
... E tudo isso deu-me que pensar.
Dou-me conta que, sem essas experiências, não podia ter saído do sem-sentido.


Silo

domingo, 3 de julho de 2011

Carta de Intenções I

Que quando estiver triste,
Por aquilo que não foi dito,
Consiga expressar-te os meus medos
Sem temores.

Que aquilo que pareça impossível de viver
Se torne viável,
A partir do primeiro passo dado.

Que as diferenças de gostos,
Ritmos e tempos,
Sejam eterna oportunidade
De investigação mútua.

Que as virtudes de cada um,
Sobrepassem as velhas dificuldades,
Lentas de se romper e mudar.

Que o afeto influa,
Contribua e se manifeste
Nos momentos em que o
Temperamento destemperado tente se impor

Que a dureza do ressentimento,
Sobre aquilo que não aconteceu como queríamos,
Abra caminho para leveza
Da reconciliação.

Que aquilo que não aconteceu antes
Se torne possível
Hoje, amanhã e nos infinitos tempos.

Que os infortúnios do passado
Sejam alimento necessário
Para criar, recriar e buscar
A felicidade em todos os momentos.

Cristiane Prudenciano