sábado, 27 de agosto de 2011

Incompreensão dos Mistérios

"Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco."

Elisa Lucinda

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

Mário Quintana




"Nomeador de mil nomes, fazedor de sentido, transformador do mundo...
teus pais e os pais de teus pais se continuam em ti.
Não és um bólido que cai mas uma brilhante seta que voa para os céus.
És o sentido do mundo e quando esclareces teu sentido iluminas a terra.
Quando perdes teu sentido, a terra se obscurece e o abismo se abre."

Silo


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"não nascemos livres: a liberdade é uma conquista - e mais:
uma invenção."

Octavio Paz

domingo, 21 de agosto de 2011

Irmandade



Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Mas olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender compreendo:
Também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra.

Octavio Paz

sábado, 20 de agosto de 2011


Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" para ser insignificante.

Augusto Branco

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem"

João Guimarães Rosa

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

“Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.

Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...”

Mário Quintana

quarta-feira, 17 de agosto de 2011


É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver

Martin Luther King

terça-feira, 16 de agosto de 2011


"A felicidade aparece para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam em nossa vida."

Clarice Lispector

domingo, 14 de agosto de 2011


Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

Vinicius de Moraes

sábado, 13 de agosto de 2011















"Quando o poema chega, é um acontecimento inusitado, uma erupção, como um vulcão.
Está tudo bem e de repente ele começa a colocar fogo pela boca."

Ferreira Gullar

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Estupor



esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir

Paulo Leminski

Destino do Poeta

Palavras? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.

Octavio Paz

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Da mesma idade



Criança que brinca e o poeta que faz uns poemas
Estão ambos na mesma idade mágica!

Mario Quintana

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Natureza Humana

Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza

Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar

Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.

Vinicius de Moraes

domingo, 7 de agosto de 2011

Reconciliação

As nuvens e o vento
e a chuva
continuam lavando nossa alma...
dos resquícios
da penumbra
da dor
e da solidão

Mais já se sente
o cálido sol
que nasce dentro

O Sol da comunicação
do afeto, da compaixão
derretendo
imagens
crenças
valores
que já não vão...
já não são...

Moiséis

sábado, 6 de agosto de 2011

Amor é fogo que arde sem se ver
















Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Monólogo de Hamlet



Ser ou não ser, eis a questão.
O que é mais nobre? Sofrer na alma
As flechas da fortuna ultrajante
Ou pegar em armas contra um mar de dores
Pondo-lhes um fim?
 
(...)
 
Quem tais fardos suportaria

Preferindo gemer e suar sob o peso de uma vida fatigante
A não pelo medo de algo depois da morte
Esse país desconhecido de cujos campos
Nenhum viajante retornou, e que nos baralha a vontade
E nos faz suportar os males que temos
Em vez de voar para o que não conhecemos?

William Shakespeare

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tabaçaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(…)

Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(…)

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates

Fernando Pessoa
Trechos do Poema Tabacaria. É um dos mais extraordinários poemas do século XX.
Ele é característico da poesia de Pessoa, da sua componente filosófica, do questionamento que ele faz da vida e do seu sentido.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ...
para sempre ...

À margem de nós mesmos..."

Fernando Pessoa

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Caminho

"Aprende a tratar aos demais do modo em que queres ser tratado. Aprende a superar a dor e o sofrimento em ti, em teu próximo e na sociedade humana.
Aprende a resistir à violência que há em ti e fora de ti.
Aprende a reconhecer os signos do sagrado em ti e fora de ti."

segunda-feira, 1 de agosto de 2011



"Tenta te orientar pelo calendário das flores, esquece, por um momento os números,
a semana, o dia do teu nascimento. Se conseguires ser leve, aproveita,
enche tuas malas de sonho e toma carona no vento."

Fernando Campanella

Aula de Vôo

O conhecimento
caminha lento feito lagarta.
Primeiro não sabe que sabe
e voraz contenta-se com cotidiano orvalho
deixado nas folhas vividas das manhãs.

Depois pensa que sabe
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas,
cava trincheiras,
ergue barricadas.

Defendendo o que pensa saber
levanta certeza na forma de muro,
orgulha-se de seu casulo.

Até que maduro
explode em vôos
rindo do tempo que imagina saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
reconhecendo o suor dos séculos
no orvalho de cada dia.

Mas o vôo mais belo
descobre um dia não ser eterno.
É tempo de acasalar:
voltar à terra com seus ovos
à espera de novas e prosaicas lagartas.

O conhecimento é assim:
ri de si mesmo
E de suas certezas.
É meta de forma
metamorfose
movimento
fluir do tempo
que tanto cria como arrasa

a nos mostrar que para o vôo
é preciso tanto o casulo
como a asa.

Mauro Iasi